Senador Fábio Lucena: Um guardião das liberdades (que faz muita falta no Congresso Nacional)
*Por Cristóvam Luiz.
"Mesmo agindo com dignidade, não conseguirás modificar o mundo. Mas, se assim agires, serás um canalha a menos na face da terra." (Confúcio).
Guardo um prazer indissolúvel na memória em ter conhecido e convivido com Fábio Pereira de Bittencourt Lucena. À época, nos anos 80, Fábio Lucena já era um dos mais respeitáveis jornalistas do Amazonas e, numa conversa simples numa reunião de formação político-partidária, ele me confessara que lia e gostava dos artigos que eu publicava nos jornais A Notícia e A Crítica, e enalteceu principalmente um artigo que formulei com o título de Carta Aberta ao Papa, quando da vinda de sua Santidade, o Papa João Paulo II, a Manaus.
Lembrar de Fábio Lucena é, sobretudo, respeitar a grandeza de espírito público ostentado por um dos mais respeitáveis políticos deste país.
Possuidor de uma oratória das mais brilhantes e com uma atuação sempre à frente do seu tempo, notadamente analisando e fiscalizando os poderes, Fábio teve uma carreira respeitável como Vereador na Câmara Municipal de Manaus, de onde partiu para conquistar seguidamente dois mandatos como Senador da República.
Em Manaus, com aquele semblante acanhado e um físico aparentemente frágil, ostentando um bigode como se fosse um fiel de balança, Fábio era uma referência por sua participação nas lutas sociais, combatendo os cartéis e os coronéis que insistiam em agir como nos velhos idos da chamada ditadura militar no Brasil.
Lembro-me que na administração do governador José Lindoso, num período em que um grupo de professores organizou uma greve das mais expressivas dos últimos tempos, em que vários grupos de estudantes apoiavam a iniciativa e marcaram uma manifestação no largo da Praça São Sebastião. Nesse dia o movimento dos estudantes foi combatido duramente por policiais militares, que espancaram participantes que corriam em várias direções, principalmente para a Igreja de São Sebastião.
Fábio Lucena, então Vereador de Manaus, presente ao ato, pôs-se a favor dos estudantes, e num gesto de bravura e coragem, como um verdadeiro defensor do povo humilde, abriu os braços entre os policiais que atacavam os estudantes e bradou em alto e bom som que os policiais militares “só continuariam as pancadarias arbitrárias se passassem por cima de seu cadáver”, fazendo cessar uma grande confusão entre centenas de libertários e centenas de ferozes policiais.
Fábio Lucena era um político extremamente admirado pelo povo amazonense. Eleito para o Senado Federal teve uma atuação contundente no Congresso, obtendo o respeito dos mais expressivos parlamentares do país, como Pedro Simon, Darcy Ribeiro, Cristóvam Buarque e Ulysses Guimarães.
Voltando um pouquinho no tempo, logo após a sua posse no Senado Federal, Fábio Lucena convidou a mim, ao Deputado Anildo Macedo e aos Vereadores Ivanildo Cavalcante e Carrel Benevides para comemorarmos sua eleição com um drinque no Mandy’s Bar, do antigo Hotel Amazonas.
Durante uma magnífica apresentação ao som de piano, um anunciado “capitão de corveta de mar e guerra”, que se acompanhava de uma belíssima morena, perdeu a moça em uma dança, em que Carrel foi mais rápido e brilhante na conquista da dama, deixando o então capitão enciumado e transloucado pelas garrafas de vinho e uísque, chegando ao cúmulo de querer enquadrar os presentes como se fossem soldados em quartel.
Na discussão com Fábio, o então militar bradou bem alto: -“sabe com quem você está falando?. Com o Comandante da Corveta de Mar e Guerra...fulano de tal”.
Com frieza e irreverência, Fábio respondeu: “Então bata continência para mim. Eu sou o Fábio Lucena, representante do Amazonas no Senado da República”.
Tive a impressão de que o filósofo Confúcio anteviu uma figura de expressão agindo com dignidade na política do Amazonas e nos ensinou um paradigma para um político de boa índole.
Assim era Fábio Lucena – irreverente e companheiro, amigo leal e digno, profissional competente e loquaz, político de fibra e ética, virtudes tão raras na política hodierna. Podemos afirmar que a coragem do Senador Fábio faz muita falta ao Congresso Nacional dos dias atuais. Fábio Lucena era, sobretudo, um guardião das liberdades!
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*Cristóvam Luiz é Professor e Escritor, Microempresário de Mineração, autor dos livros eletrônicos “Redação em Multimídia”, lançado em Manaus-AM, “Redator Legislativo”, lançado em Brasília-DF, “Redação em Multimídia para Vestibulares e Concursos”, lançado em São Paulo - SP; "The Map, the Mine and Dreams - A litlle adventure in the Amazon" e "Como Elaborar Proposições Legislativas Eficazes?" lançados na plataforma de livros internacionais da Amazon.com. É também Organizador da "Constituição do Estado do Acre (Atualizada té a Emenda Constitucional Nº 68, de 04/01/2023) recém lançada.

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